Trabalhar na Disney foi a melhor decisão que eu tomei na minha vida.
Sempre gostei dos filmes da empresa, mas foi depois de visitar Orlando pela primeira vez, em 2007, que percebi o quanto gostava desse universo mágico. Não deu outra: voltei para casa e já comecei a bolar planos para economizar e voltar para os parques.
Pesquisando como fazer uma viagem mais econômica, descobri sem querer que brasileiros podiam trabalhar no complexo durante suas férias da faculdade. Me encantei com a ideia e resolvi que tentaria assim que tivesse idade.
Completei 18 anos e, no meio do meu terceiro semestre de ciências da computação, me inscrevi para a seleção.
Não passei.
Arrasada, conclui que precisava melhorar o meu inglês para o ano seguinte. Resolvi fazer um intercâmbio na Austrália, onde eu estudei muito, mas também me apaixonei por viajar. A verdade é que o meu desejo por explorar o mundo, e até esse blog, jamais existiriam se não fosse a vontade que eu tinha de trabalhar na Disney! Não é incrível?
Voltei do outro lado do mundo, participei do processo seletivo seguinte, e fui aprovada para a temporada de 2013/2014. Nesse post eu vou contar sobre como era o trabalho, a convivência com pessoas de todas as partes do mundo e porquê essa foi uma das melhores experiências da minha vida.
Trabalhar na Disney
Como funciona
O CEP (Cultural Exchange Program) é um programa para universitários do Brasil que queiram trabalhar na Disney durante o período das férias de verão (inverno nos Estados Unidos). Na época em que eu participei, o intercâmbio era chamado de ICP (International College Program), por isso não estranhe caso veja essa sigla ao longo do texto.
O programa dura em média de 2 a 3 meses, e os participantes são contratados para realizar funções como operar brinquedos, trabalhar em restaurantes, em lojas, ajudar com a limpeza do parque, controlar as filas e até ser amigo dos personagens.
A verdade é que, além de mão de obra barata, brasileiros são escolhidos pela Disney para lidar com os conterrâneos que lotam o parque durante essa época de ano. É muito mais fácil instruir um grupo de excursão se você fala a mesma língua, especialmente se forem crianças e adolescentes.
Qual a vantagem de participar do programa? Além de incluir uma experiência internacional com a maior empresa de entretenimento do mundo no seu currículo, você aprende a lidar com pessoas de diferentes culturas, é remunerado pelo seu trabalho, e ainda tem o benefício de visitar os parques sem pagar e adquirir produtos com desconto (sim, o seu salário acaba voltando para a Disney, rs).
A seleção
Para estar apto a participar, o candidato precisa estar matriculado em um curso de bacharel presencial reconhecido pelo MEC, estar cursando entre a segunda e última fase, ter inglês fluente e pelo menos 18 anos na época das entrevistas.
Também é necessário ter disponibilidade para embarcar no período estabelecido pela própria empresa, com datas entre novembro e dezembro, e condições financeiras para custear a passagem aérea, seguro viagem, visto e outras taxas relacionadas ao programa.
No Brasil, a seleção é feita em parceria com a agência STB. A primeira etapa costuma ocorrer em maio, e consiste em uma palestra informativa e uma entrevista que pode ser feita em até três pessoas. Ao ser aprovado, uma segunda entrevista, agora individual e com recrutadores da própria Disney é agendada para meados de agosto.
Caso seja escolhido para participar do programa, você finalmente recebe a sua job offer e pode dar início aos trâmites do visto. Nessa oferta de emprego está especificado seu salário e qual vai ser a sua role (função), a qual não é possível mudar. Apesar de ser possível expressar uma preferência durante a entrevista, a decisão final é da própria Disney.
Minha experiência trabalhando na Disney como Attractions
Quando recebi a minha oferta para trabalhar como Attractions senti um misto de felicidade e apreensão. Estava contente por ser escolhida para participar do programa, mas receosa em operar um brinquedo difícil. A minha primeira opção de role era merchandise (trabalhar nas lojas), mas resolvi encarar o desafio.
Participei de um grupo no Facebook com todos os candidatos, e alguns deles eram amigos de funcionários que podiam acessar o sistema e ver onde iríamos trabalhar. Descobri que estava alocada para o Epcot, e novamente senti que o intercâmbio talvez não fosse como eu esperava. Esse foi o meu parque menos favorito na minha primeira visita, e confesso ter ficado um pouco desapontada.
Hoje eu vejo esses acontecimentos com outros olhos.
Fico feliz de não ter sido do meu jeito, pois assim tive uma chance de me apaixonar por um parque que antes havia me decepcionado — hoje ele é meu queridinho.
Também me considero com sorte em relação ao trabalho, pois meus amigos que foram merchan eram escalados para shifts longos, os quais muitas vezes acabavam as 3 da manhã, carregando caixas pesadas e outras situações parecidas.
Já eu fui escolhida para trabalhar no Living with the Land, uma atração onde os visitantes entram em um barco e são conduzidos por dentro de estufas e aprendem um pouco sobre o meio ambiente. Se você já visitou o Epcot e não lembra desse brinquedo, é porque provavelmente você escolheu ir ao Soarin’, que fica do lado.
Em um primeiro momento achei que seria entediante passar meus dias em uma atração impopular, onde a fila nunca passava de cinco minutos. Mas a verdade é que, justamente por esse fato, o nosso trabalho ia muito além do brinquedo, e cuidavamos de um prédio inteiro.
Além de operar os comandos dos barquinhos, os funcionários do Living with the Land também eram responsáveis pelo Circle of Life, cinema 2D do Rei Leão, por ficar na entrada dando informações, estacionando carrinhos de bebê do lado de fora, controlando o fluxo nos dois andares do The Land e, no geral, interagindo muito com o público.
Essa era a minha parte favorita, pois eu adorava conversar com os guests, ajudar e oferecer dicas. Muitos foram os brasileiros que me abraçaram por “finalmente encontrar alguém falando português”!
Pode até parecer, mas não foi um trabalho fácil, viu? Tive escalas de 12 horas com poucos intervalos, onde precisava ficar de pé quase o tempo todo, já que existe uma regra que diz que você não pode sentar na frente dos guests. Não folguei por 13 dias seguidos durante a época de Natal e ano novo, e alguns amigos meus chegaram a fazer quase 100 horas na semana durante esse período.
Por ser attractions, só tive treinamento para as minhas funções específicas, e não podia pegar horários extra em nenhum outro brinquedo. Meu salário era bem pequeno em comparação com as minhas amigas que eram quick service, já que elas podiam trabalhar em qualquer “restaurante rápido” do complexo.
Foi bom pois eu tinha mais tempo para aproveitar os parques, mas também ruim pois não fazia muito dinheiro. Se seu objetivo é juntar grana, não recomendo a minha função. Tente quick ou até merchan, para ter mais chances de conseguir shifts extras.
» Você também pode gostar: 10 Coisas que você precisa fazer na sua primeira viagem a Orlando
Morando nos alojamentos da Disney
Diferente de outros intercâmbios de work experience, os participantes do CEP não precisam se preocupar com onde morar. A própria Disney disponibiliza quatro complexos de apartamentos, os quais são divididos entre todos os trabalhadores do college program (para universitários americanos) ou de cultural exchange (para estrangeiros). São eles: Vista Way, Patterson Court, The Commons e Chatham Square.
Não é de graça, e um valor é debitado do salário semanal para cobrir o aluguel, a luz e a internet, além de alguns móveis e objetos essenciais. Comida, roupa de cama, travesseiro, material de limpeza, e outros por menores ficam por conta dos moradores.
Depois de receber a job offer você é adicionado ao sistema do housing, onde pode informar qual tipo de apartamento e com quem gostaria de morar. Novamente, são apenas sugestões, e a empresa toma as decisões finais.
O processo para trabalhar na Disney dura quase um ano, e como mencionei eu já havia feito amizade com outros candidatos através de grupos do Facebook e do Whatsapp. Uma amiga minha também havia sido selecionada para ir na minha data (um critério para escolher roommate é ele precisa chegar no mesmo dia que você) e ambas preenchemos nos nossos formulários que gostaríamos de morar juntas.
Nosso pedido foi atendido e fomos morar em um apartamento de três quartos no Chatham Square, junto com outra brasileira e três americanas. Essas últimas foram embora no dia 6 de janeiro, ao término dos seus programas, e depois disso ficamos em apenas três pessoas.
É difícil conviver com pessoas diferentes, mesmo que elas tenham a sua nacionalidade. Além de estresse com a temperatura, já que o ar condicionado era central, tivemos problemas com lixo, louça na pia, barulho, pessoas no apartamento e outras situações. Ser flexível para morar com desconhecidos é um dos pré-requisitos do programa, e com exceção da roommate que eu escolhi, que até hoje é uma das minhas grandes amigas, acho que não dei muita sorte.
Para mim, a grande vantagem de morar no housing da Disney é a proximidade com os amigos. Esses eram demais e compensaram qualquer problema com colegas de quarto. Nada como chegar de um shift longo e bater na porta daquela pessoa que acabou de preparar o jantar (Amanda, te amo!).
Outro benefício é o sistema exclusivo de ônibus para os moradores, os quais levavam para todos os parques, hotéis, outros condomínios, Walmart e até para o Florida Mall. A localização também era ótima, pois o The Commons fica ao lado do Premium Outlet da Vineland, e de lá era fácil pegar o i-trolley na International Drive e ir até os parques da Universal.
» Você também pode gostar: 9 Formas de Economizar na Disney
Vale a pena?
Em uma tentativa de deixar esse post o mais resumido possível — ele já está na quinta página — não vou contar histórias ou falar sobre como era legal ir aos parques nos meus dias de folga. Se você quiser saber em mais detalhes como foi minha experiência, eu recomendo escutar o primeiro episódio do Desembarque Podcast, projeto meu e da Dé do blog Foco no Mundo, onde passamos quase uma hora só falando de trabalhar na Disney:
Mas, para ser justa, vou terminar esse post respondendo a pergunta que todo mundo me faz quando eu falo sobre trabalhar na Disney: vale a pena?
Financeiramente falando é um dos intercâmbios mais baratos que existem. Você paga o visto, passagem, seguro e uma taxa de USD 354,50 pelas duas primeiras semanas de housing e para eventos nos condomínios, e só. É possível viver durante todo o tempo do programa apenas com o salário do trabalho, e quem conseguir algumas horas extras pode até sair no lucro. Vários amigos voltaram com macbooks e iphones.
Trabalhar para uma empresa desse porte, mesmo que seja limpando o chão, é um enorme enriquecimento para qualquer currículo, especialmente de um estudante universitário. As lições que aprendi em ética de trabalho, segurança e atendimento ao cliente seguem comigo até hoje.
Acima de tudo, eu respondo que vale a pena pela experiência. Trocaria qualquer viagem para passar mais três meses com meus amigos comendo Ben n Jerrys nos condomínios depois de 12 horas de shift, indo aos parques com pessoas que são tão apaixonadas pela Disney quanto eu, comprando bichinhos de pelúcia defeituosos com desconto e até aguentando alguns guests mal-humorados. Até hoje eu choro de saudades quando toca alguma música da época.
Esse intercâmbio foi incrível, como a maior parte deles é, devido as pessoas que dividiram esse tempo comigo. Foram eles que tornaram os meus dias em mágicos, e eu só tenho a agradecer por ter embarcado nessa aventura.
Se você pensa em trabalhar na Disney, minha única recomendação é não perder o prazo para a inscrição. Você não vai querer esperar até o ano que vem.
Boa sorte e have a magical day!
Gostou desse post? Salve no Pinterest para ler depois!
Oii Alyssa, tudo bem? Comecei a ler seu blog porque estava procurando um mochilão novo para comprar (tenho o forclaz 50L da Quechua e acho grande demais haha e graças a você, descobri a Osprey e fiquei apaixonada no Fairview 40L) e li que você trabalhou na Disney, no melhor parque aka Eptop!!! Tentei o processo 17/18, mas reprovei na 2ª fase, porém fiz igual a você, fiz outro intercâmbio e ano que vem estou prontissima para tentar o 19/20! Fico feliz de ler experiências relacionadas ao ICP, esse seu post foi basicamente uma WOL e eu amei demais! Queria saber se você conseguiu fazer GP e pra onde foi! Um beijos e muita pixie dust <3
Oi, Mavi!! Que fofo seu comentário 🙂
Acabou que eu não fiz GP porque foquei em formar (um erro, sinceramente). Penso nisso até hoje, mas por enquanto tá difícil de conciliar o calendário… Talvez no próximo, vamos ver! E isso aí, não desiste do processo, não! Eu tenho vários amigos que precisaram de duas ou mais tentativas e todos concordam que valeu super a pena!
E olha, investe se possível na Osprey Fairview que é SUCESSO <3 Tenha uma viagem chegando e to louca para começar a organizá-la!
Beijos e obrigada pelo comentário <3
Oi Alyssa! Sempre quis participar desse programa, mas não encontro maiores informações na internet… seu post foi extremamente enriquecedor! Eu inclusive queria perguntar algumas coisinhas relacionadas a isso, se você não se importar é claro! Você sabe me dizer o que eles procuram num curriculo? Que tipo de diferencial uma pessoa precisa ter pra se candidatar pra esse programa?? Agradeço desde já a sua atenção! 🙂
Oi, Thaís!
Normalmente eles procuram pessoas extrovertidas, com domínio do inglês e que estejam realmente dispostas a trabalhar. Se você tiver algum diferencial como atendimento ao público para colocar, melhor, mas se mostrar que é fluente, simpática e carismática já é o suficiente (pelo menos era na minha época). Intercâmbio também ajuda pois eles conseguem ver que você já tem experiência em ficar longe da família (afinal, voce vai passar natal e ano novo trabalhando) e independencia. No meu currículo tinha apenas a faculdade (ciências da computação), meu intercâmbio para estudar inglês na austrália e foi isso! Deu tudo certo 🙂
Oi Alyssa!
Que bacana o seu relato! Amei… Amo da Disney!
Tenho a intenção de incentivar a minha sobrinha a fazer esse intercâmbio, ela tem 16 anos ainda, mas já penso nisso.
A minha pergunta é: como você fez para conseguir adiantar as provas no final do ano e perder as aulas no início do outro ano? A faculdade entendeu e ajustou pra você?
Obrigada e parabéns pela experiência!
Oi, Flávia!
Na época eu conversei com cada um dos professores e todos eles deixaram eu adiantar as provas finais. De qualquer jeito, eu já tinha estudado bastante no resto do semestre e já estava passada em praticamente todas as matérias sem as últimas provas, o que pode ser uma opção para caso os professores não sejam tão compreensivos.
Eu voltei no final de fevereiro para o Brasil e minhas aulas começavam em março, então para o semestre seguinte também não teve problema! 🙂